terça-feira, 4 de outubro de 2011

Governo planeja forte estímulo a 'carro verde'



O governo entende que o forte estímulo aos "veículos verdes" precisa ocorrer logo, de forma a inserir o país e a indústria automobilística local em um debate que ganha força nos países europeus e asiáticos, onde estão as matrizes da maior parte das montadoras. Integrantes da equipe econômica citam as discussões dos líderes europeus, em Bruxelas, que envolvem a extinção, até 2050, do tráfego de veículos convencionais, movidos a gasolina e diesel.

Segundo um dos principais articuladores do novo regime automotivo no governo, o Brasil tem "uma bala na agulha" para aproveitar a crise mundial. "Vivemos uma janela de oportunidade no mundo. Os países ricos, onde a indústria é de vanguarda, estão sem espaço para estímulos e sem crescimento interno. Nossa chance de liderar o desenvolvimento tecnológico na indústria automobilística, inclusive para constituir uma fábrica 100% nacional, focada no carro elétrico, é agora."

Para isso, o governo estuda zerar a alíquota de 25% do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) que incide atualmente sobre os veículos elétricos e híbridos. Na área econômica do governo, é muito clara a distinção das medidas adotadas na semana passada e as novas, em estudo. Enquanto a elevação do IPI foi uma "reação" à crescente entrada dos importados, o novo regime automotivo é trabalhado no governo como "uma sinalização para o futuro da indústria", nas palavras de uma fonte do alto escalão da equipe econômica.

Segundo a autoridade, os veículos híbridos, num primeiro momento, e elétricos, num segundo estágio de evolução do setor, são "fundamentais" para o período que se inicia nesta década, em que a redução de emissão de poluentes por parte dos veículos se torna ponto central para a sociedade. O setor de transporte representa cerca de 13,1% das emissões mundiais de CO2, segundo a revista especializada "Blue Auto", sediada em Lisboa.

O ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, confirmou ontem, em Bruxelas, a preparação das novas regras, e defendeu as medidas adotadas com relação ao IPI maior para automóveis importados. Disse que elas devem durar até a definição do novo regime automotivo. Mercadante negou ainda que a elevação do IPI provoque uma fuga de investimentos do país, uma vez que o governo abriu a possibilidade de negociar um cronograma até que o índice de conteúdo nacional de 65% seja atingido pelas empresas que garantam a construção de fábricas no país. "O governo está totalmente aberto a isso", disse, lembrando que o índice de nacionalização exigido pela China é ainda maior.

As medidas, que devem ser anunciadas ainda neste ano, estão sendo preparadas por técnicos dos ministérios da Fazenda, o Desenvolvimento e Ciência e Tecnologia. Ao receber o presidente mundial da Renault/Nissan, Carlos Ghosn, no Palácio do Planalto, no sábado, a presidente Dilma Rousseff cobrou da equipe econômica a "aceleração" dos estudos envolvendo o novo regime automotivo, de forma a introduzir no Brasil a produção do carro elétrico. Ghosn anunciou a implantação de uma fábrica da Nissan, no Rio de Janeiro, e a disposição de "investir no desenvolvimento tecnológico não só do [veículo] flex fuel, mas também de carros elétricos e híbridos".

As discussões no governo não são unânimes, no entanto. No ano passado, uma medida de estímulo ao veículo elétrico foi cancelada dias antes de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciá-las. Miguel Jorge, então ministro do Desenvolvimento, chegou a afirmar, à época, que o carro elétrico no Brasil só seria viável em 2017.

Há, dentro do governo, divisões quanto ao forte incentivo a veículos híbridos e elétricos. De um lado, há aqueles que veem no etanol a principal "saída para o futuro" da indústria automobilística do país. Outro grupo entende que os veículos elétricos aumentarão muito a demanda por esse tipo de energia, exigindo esforços das usinas termelétricas, que, diferentemente das hidrelétricas, são mais poluentes. Além disso, criticam a "lenta" evolução da bateria elétrica.

A frota da Presidência da República conta com um veículo híbrido, o Fusion, da Ford, importado do México. Já os veículos elétricos, integralmente movidos por uma bateria recarregável em uma fonte externa, não são comercializados no país ainda. A Fiat produziu, sob encomenda, seis veículos elétricos para o tráfego interno na usina hidrelétrica de Itaipu.


Selo do Inmetro deverá ser obrigatório em veículos



De Brasília
Sinônimo de excelência, o selo que o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) concede aos eletrodomésticos nacionais que cumprem as regras de eficiência no consumo de energia está chegando de fato à indústria automobilística. Criado em 2008, mas ainda pouco conhecido pelos consumidores, o Programa Brasileiro de Eficiência Veicular, do Inmetro, é uma das três pernas do novo regime automotivo gestado no governo. Aliado à suspensão do IPI para veículos elétricos e híbridos e à utilização das compras públicas como fator gerador de demanda, o selo de certificação do Inmetro será utilizado, a partir deste ano, como "diferenciação". Ainda de adesão voluntária, o selo deve se tornar compulsório até o fim do governo Dilma Rousseff.

Estuda-se no governo tornar o selo do Inmetro uma espécie de condicionante para veículos terem preferência nas compras públicas. Ou seja, quando um órgão público abrir uma licitação para compra de veículos para sua frota, aqueles que tiverem o selo do Inmetro terão margens privilegiadas. A engenharia para tal medida seria a mesma da adotada pela Caixa Econômica Federal no programa Minha Casa, Minha Vida - por meio de um termo de referência, a Caixa pode conceder financiamentos mais atraentes para a compra de coletores solares (para aquecimento de água para banho) nas residências do programa.

A avaliação de conformidade com os parâmetros de consumo de combustível e emissão de poluentes realizada pelo Inmetro com os veículos automotores desde 2008 avançou muito. A quarta edição do selo de certificação do Inmetro para a indústria automotiva começa no mês que vem, e nove das 11 montadoras filiadas à Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) inscreveram seus veículos. A distribuição de selos de certificação do Inmetro, referente ao período 2012-2013, será divulgada em novembro, e apenas Mitsubishi e Hyundai não inscreveram seus veículos no programa, de adesão voluntária neste primeiro momento.

O Inmetro disponibiliza seus 15 laboratórios para testar os veículos de fabricantes que não contam com laboratórios próprios no país, como Kia Motors, Renault e Honda, que podem também utilizar laboratórios neutros, como o da Bosch, avalizados pelo Inmetro. Aqueles fabricantes que contam com laboratórios próprios, como Ford e Volkswagen, por exemplo, apenas precisam submeter os resultados de seus testes ao Inmetro, que os cruza com o padrão normativo para consumo de energia e emissão de poluentes. Se o desvio ficar dentro da margem de 8% do padrão tido como ideal pelo Inmetro, o veículo recebe o selo.

Hoje, apenas o Ford Fusion, entre os veículos híbridos que chegaram ao mercado brasileiro a partir de 2010, conta com o selo de qualidade do Inmetro. Uma segunda montadora também receberá o selo em novembro - o selo será fortemente utilizado em suas campanhas de marketing.

Segundo o responsável pelo programa, Alexandre Novgorodcev, a procura das empresas pelo selo "se antecipou" à cobrança dos consumidores. "Como os consumidores brasileiros conhecem o rigor do Inmetro, logo começarão a exigir o selo dos veículos também", disse.

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