quinta-feira, 4 de julho de 2013

Vendas de motos voltam a níveis da crise financeira

 

Por Eduardo Laguna | De São Paulo - Valor 04/07
 
Sem esboçar a reação esperada pelos fabricantes, o mercado de motos continua em queda livre neste ano - o segundo seguido de baixa - e está voltando aos níveis de 2009, quando o setor foi severamente afetado pela crise de crédito. No primeiro semestre, as vendas, pressionadas pelo crédito ainda restritivo, caíram quase 12%, para um total de 748,3 mil motocicletas licenciadas no país, abaixo das 765,7 mil unidades do mesmo período de 2009.
Só a Honda, líder com folga nesse mercado, com mais de 80% das vendas, viu uma queda equivalente a 70 mil motos nos volumes emplacados. Mas a crise é quase generalizada, poupando apenas as marcas com atuação no segmento premium, como BMW, Kawasaki e Harley-Davidson, que são menos afetadas pela seletividade dos bancos.
Na Zona Franca de Manaus, onde está concentrada quase toda a produção de motos do país, as montadoras se ajustam ao novo patamar do mercado com cortes de mão de obra e um menor ritmo de produção. Desde o ano passado, mais de 2,6 mil vagas de trabalho foram eliminadas no polo industrial duas rodas, que hoje ocupa 18,5 mil pessoas, segundo levantamento da Suframa. No período, paradas de produção também foram feitas pelos fabricantes, incluindo a Honda, que, em uma situação normal, seria capaz de produzir uma moto a cada oito segundos. Em julho do ano passado, a montadora teve de estender as férias coletivas em sete dias, dada a falta de reação do mercado.
Neste mês, as fábricas vão diminuir ainda mais o ritmo por conta das férias coletivas programadas para a maioria das linhas. A fábrica da Kasinski, contudo, está parada há cerca de um mês. A empresa antecipou as férias coletivas e seus funcionários ainda não voltaram porque agora estão em licença remunerada de mais 30 dias, conforme informações do sindicato dos metalúrgicos local.
Apesar da derrocada de quase todo o setor, nenhuma montadora perdeu tanto mercado como a Kasinski. Entre janeiro e junho, as vendas da marca caíram pela metade, com pouco mais de 5 mil unidades emplacadas. A empresa atribui o desempenho negativo à retração do crédito no Nordeste, onde está o maior mercado de motocicletas do país e região na qual a Kasinski também tem parcela significativa das vendas.
Essa é a segunda crise que o setor atravessa em cinco anos. Em 2009, no auge da crise financeira internacional, o problema também era a falta de crédito, mas o governo conseguiu socorrer a indústria com linhas especiais de financiamento e a eliminação da cobrança da Cofins nas vendas de motos populares. As medidas, junto com a aceleração da economia, permitiram a reação do mercado nos dois anos seguintes, levando ao recorde de mais de 2 milhões de motocicletas vendidas em 2011.
No ano passado, os volumes voltaram a cair e os bancos públicos foram novamente acionados para resgatar o setor. Em outubro, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal anunciaram condições especiais nos financiamentos de motos, depois que o Banco Central liberou depósitos compulsórios para essa finalidade. Dessa vez, porém, os bancos privados não acompanharam.
Fontes da indústria e de concessionárias relatam que a seletividade persiste. Segundo eles, a cada dez solicitações de crédito, só duas ou três são aprovadas. Números da Cetip mostram uma redução de 16% no número de motos novas financiadas neste ano, entre as modalidades de Crédito Direto ao Consumidor (CDC) e consórcios.
Em dezembro, a Abraciclo, entidade que abriga os fabricantes de motos, projetou para 2013 um crescimento de 2,4% das vendas e de 3,7% na produção, após avaliar que o setor já tinha chegado ao fundo do poço. As metas, contudo, se tornaram pouco factíveis e devem ser revistas hoje, quando serão apresentados os resultados de junho e do acumulado do primeiro semestre. Até maio, as vendas no atacado - das montadoras às concessionárias - caíam 11%, enquanto a produção recuava 17,3%.



quarta-feira, 3 de julho de 2013

Montadoras dos EUA passam a ser uma potência exportadora

 

The Wall Street Journal, de Marysville, Ohio
 
A indústria automobilística dos Estados Unidos, que há apenas quatro anos estava em frangalhos, emerge agora como uma potência de exportação, impulsionada pelo câmbio e por custos trabalhistas favoráveis, tendência que, segundo especialistas, pode permanecer por muitos anos.
Em um sinal da recuperação, a Honda Motor Co., que já importou para os EUA muitos carros fabricados no Japão, espera até o fim de 2014 exportar um número maior de veículos produzidos na América do Norte - quase todos em linhas de montagem americanas - do que os que traz do Japão.
No ano passado, mais de um milhão de carros e caminhonetes foram exportados pelas fábricas das montadoras nos EUA, número recorde e mais de o triplo registrado em 2003, segundo a Administração de Comércio Internacional dos EUA.
Custos trabalhistas menores e reestruturações que fecharam fábricas improdutivas fortaleceram a competitividade global das unidades das montadoras nos EUA. Algumas estão considerando a produção no país uma alternativa para atender os mercados emergentes em expansão.
Até o fim de 2014, a Chrysler espera exportar até 500.000 veículos por ano para mercados fora da América do Norte, mais que o dobro dos 210.000 do ano passado. A vasta maioria dessas exportações sai de fábricas nos EUA.
"O que mudou é o nosso foco nos mercados internacionais", disse Mike Manley, diretor-presidente da marca Jeep, da Chrysler. A Chrysler, que tem a Fiat como controladora, está usando as conexões da montadora italiana para ampliar suas vendas na Rússia, China e outros lugares. "Adotamos uma postura muito diferente, mais agressiva, sobre como podemos crescer com os recursos que temos hoje", disse.
O valor financeiro dos automóveis que entram nos EUA ainda é maior que o dos que são exportados. O déficit comercial do setor automobilístico do país foi de US$ 105,5 bilhões no ano passado, quase o dobro dos US$ 51 bilhões obtidos com as exportações de veículos. Ainda assim, o setor representou apenas 14,5% do déficit comercial geral dos EUA em 2012, ante 22% em 1987.
Poucas montadoras estão planejando uma mudança tão drástica quanto a Honda. No ano passado, ela exportou 90.000 veículos da América do Norte. Ela tem como meta elevar esse número para 200.000 por ano, beneficiando-se de expansões de fábricas no país e da desvalorização da moeda americana. O dólar se fortaleceu este ano e ontem US$ 1 valia US$ 100,44 ienes. Mas ainda assim a cotação da moeda americana está bem abaixo do nível de 2007, quando eram necessários 120 ienes para comprar um dólar.
Os carros fabricados nos EUA estão sendo enviados para a China, o maior mercado automobilístico do mundo, a Arábia Saudita, o segundo maior mercado para os carros dos EUA. Também entram na lista dos principais mercados a Alemanha e a Coreia do Sul, que agora tem um acordo de livre comércio com os EUA.
Na unidade da Ford Motor Co. em Chicago, 25% da produção do utilitário esportivo Explorer é despachada para fora da América do Norte. Em sua fábrica em Illinois, a Chrysler monta Jeeps com motores a diesel para clientes europeus.
De certa forma, a GM e a Ford nunca sentiram a necessidade de vender ao exterior os veículos que produzem nos EUA porque foram líderes na globalização, abrindo fábricas na Europa e outros lugares no início do século passado. O forte crescimento das exportações de automóveis produzidos nos EUA é, em parte, fruto dos processos de recuperação judicial da Chrysler e da GM liderados pelo governo americano há quatro anos, que fechou fábricas improdutivas, e do dólar mais fraco, que tornou os produtos americanos mais competitivos no exterior.
Acordos trabalhistas pavimentaram o caminho para que as duas montadoras contratassem funcionários com salários mais baixos do que os pagos antes. A Ford, que promoveu uma reestruturação sem a intervenção do governo, também fechou acordos sindicais semelhantes.
A enxuta indústria americana contrasta com as da Europa e Japão, que sofrem com o excesso de capacidade, aumento dos custos trabalhistas e diminuição da demanda doméstica. Dados preliminares de junho indicam que as vendas de automóveis nos EUA apresentaram o maior crescimento em cinco anos.
Em 2012, a BMW exportou cerca de 70% da sua produção na Carolina do Sul. A Mercedes-Benz, da Daimler AG, também exportou cerca de 70% do que produziu no Alabama. A Toyota exportou 124.000 carros feitos nos EUA, acima dos 86.000 de 2011.
O aumento das exportações de veículos nos EUA também está gerando empregos bem longe do coração da indústria automobilística. Os modelos da Jeep enviados para a China e outros mercados da Ásia, por exemplo, saem agora por Grays Harbor, em Washington. Nos anos 90, o porto enfrentou dificuldades com a queda das exportações. Hoje, o que se vê é uma intensa movimentação de carros sendo embarcados.