sexta-feira, 28 de junho de 2013

Vendas de carros continuam aquecidas

 

Por Eduardo Laguna | De São Paulo - Valor 28/06
 
As vendas de carros novos repetiram em junho o forte ritmo dos dois últimos meses, mas o resultado final, segundo algumas análises, foi prejudicado pela onda de protestos no Brasil, que tirou força do consumo. Números preliminares, baseados nos emplacamentos de veículos, mostram que o mercado está movimentando uma média de 14,8 mil automóveis e comerciais leves por dia útil, mais do que o volume diário ao redor de 14,4 mil unidades de abril e maio.
Mantendo-se essa toada, e considerando o tradicional reforço das vendas nos dois últimos dias do mês, estima-se que junho fechará perto de 300 mil carros emplacados, quase repetindo as 300,9 mil unidades do mês anterior, apesar de ter um dia útil a menos de venda. Até quarta-feira, 267 mil carros já tinham sido licenciados.
Contudo, como já se esperava, o mercado ficou abaixo dos 340,7 mil carros vendidos em junho do ano passado, quinto melhor mês da história para a indústria de veículos leves. Naquele mês, os emplacamentos dispararam com a corrida de consumidores às concessionárias para aproveitar cortes no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) que chegavam a zerar a alíquota do tributo para carros populares.
A redução do IPI foi anunciada pelo governo em maio do ano passado para reverter uma tendência que se mostrava negativa no mercado de automóveis. A medida teve o impacto mais significativo nos três meses seguintes, levando ao pico de mais de 405 mil carros emplacados em agosto.
Pelo fortalecimento da base de comparação, a desaceleração no ritmo de crescimento da indústria era amplamente aguardada tanto por analistas independentes como por fabricantes de veículos e revendedores. A evolução nas vendas acumuladas de automóveis e comerciais leves, que estava próxima a 9% em maio, caiu para cerca de 7% perto do fechamento do semestre, segundo fonte com acesso aos emplacamentos diários.
Para alguns observadores, junho poderia ter mostrado um resultado ainda melhor não fossem as manifestações em diversas cidades brasileiras, que diminuíram, segundo eles, a disposição do consumidor em fazer compras. Rodrigo Nishida, analista da LCA, diz que as vendas diárias caíram de um ritmo de 15,6 mil carros - média registrada na primeira quinzena - para 13,9 mil unidades a partir da intensificação dos protestos na semana passada. Se fosse mantida a média da primeira metade do mês, junho atingiria a marca de 312 mil carros licenciados.
"Esse comportamento é estranho porque normalmente os licenciamentos ganham força no fim do mês. Mas isso indica que o consumidor pode estar esperando as coisas se acalmarem para voltar a comprar", diz Nishida.
No início da semana, um relatório do Citi já relacionava protestos à queda de atividade no varejo. O texto, assinado pelos analistas Stephen Graham e Nicolas Riva, cita mudanças no comportamento dos moradores de grandes cidades nas duas últimas semanas para concluir que as pessoas não compram durante as manifestações.
Na briga das marcas, a Fiat se mantém na liderança neste mês, com 21,3% das vendas, conforme dados preliminares. Na sequência aparecem a Volkswagen (20%), a General Motors (18,4%) e a Ford (9,4%). Diferentemente dos meses anteriores, a Renault supera a Hyundai na disputa pela quinta posição. A marca francesa tem 6,5% do mercado em junho, enquanto a Hyundai atinge 5,1%.


sexta-feira, 21 de junho de 2013

Baixa qualidade do transporte público abre espaço para carros

 

Por Eduardo Laguna | De São Paulo - Valor 21/06
Foco de manifestações nas duas últimas semanas, a insatisfação com o transporte público também é combustível para o uso cada vez mais intensivo de veículos motorizados individuais nas grandes cidades, alimentando sucessivos recordes registrados pela indústria automobilística.
São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília, palcos dos maiores e mais tensos protestos contra o aumento das tarifas de ônibus, não à toa, são também as cidades com as frotas de carros mais numerosas do país, que não param de crescer com os estímulos do governo ao consumo.


Em oito anos, as vendas de carros na cidade de São Paulo, onde está o maior mercado do país, acumularam alta de 76%, enquanto no Rio o consumo dobrou, e em Belo Horizonte, assim como em Brasília, triplicou. Paralelamente, o uso do sistema de ônibus urbanos, responsável por 90% do transporte coletivo no país, vem mostrando trajetória declinante desde 1996, marcando, desde então, uma queda de demanda próxima a 30%, mostra levantamento da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) em nove capitais brasileiras.
Os números, segundo especialistas em mobilidade urbana, indicam um deslocamento da demanda para o transporte individual privado, com a proliferação de automóveis e motocicletas pelas ruas das grandes cidades.
Desde 2007, a indústria vem, ano a ano, renovando recorde nas vendas de carros, o que levou o Brasil a sair do nono para o quarto maior mercado automotivo do mundo. Essa evolução veio no embalo da expansão na renda da população, mas também foi sustentada pelo apoio governamental pesado à demanda de veículos individuais - seja com a desoneração na compra de carros, seja com medidas para a liberação do crédito ao consumo.
Com frequência, o governo passou a adotar nos últimos quatro anos descontos no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para evitar que o setor fosse contaminado, primeiro, pela crise financeira internacional de 2008 e, depois, pelas restrições de crédito de bancos privados. Nesse período, a frota de automóveis na cidade de São Paulo cresceu 13,4% e superou 5,3 milhões de carros. No Rio, a alta foi de 22,4%. Em Belo Horizonte e Brasília, o número de carros teve um crescimento da ordem de 33%, passando de 1 milhão de unidades em cada uma das cidades.
Já no Nordeste, maior mercado de veículos duas rodas do país, houve uma disparada nas compras de motos. Em Salvador, por exemplo, a frota de motocicletas cresceu 72,5% desde 2008, para mais de 100 mil unidades. Em Fortaleza, o número de motos já passa de 214 mil unidades, 93,6% a mais do que quatro anos atrás.
Os resultados mais nocivos da decisão de privilegiar incentivos a meios de transporte particulares nas políticas de mobilidade urbana são conhecidos: os congestionamentos, a poluição e os acidentes de trânsito. Porém, a migração para os veículos particulares também tem como pano de fundo a baixa qualidade dos serviços públicos percebida pela população, junto com o maior acesso aos automóveis zero quilômetro, em contraposição a uma escalada de custos do transporte público.
Segundo Carlos Henrique Carvalho, pesquisador que acompanha o tema no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), as tarifas dos ônibus urbanos subiram 111% nos últimos dez anos, enquanto o preço do carro novo ficou apenas 4% mais caro em igual período - bem abaixo da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mostrou alta de 77%. "É como baratear o transporte privado e tornar mais caro o público", diz o especialista.
Marcos Bicalho, diretor da NTU, que representa as empresas de transportes urbanos, justifica a alta acima da inflação das tarifas ao aumento no preço do diesel - cujo peso nos custos do setor subiu de 12% para 20% em dez anos -, além da menor "velocidade comercial" dos ônibus, dado o compartilhamento de espaços com os carros. Isso faz com que as empresas precisem administrar frotas maiores para transportar um contingente menor de usuários, diz Bicalho.


terça-feira, 18 de junho de 2013

Brasil e Argentina voltam a negociar acordo automotivo

 

Por César Felício | De Buenos Aires - Valor 18/06
 
Enviado especialmente pela presidente Dilma Rousseff, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, foi recebido no fim da tarde de ontem pela presidente argentina Cristina Kirchner, na residência oficial de Olivos, região metropolitana de Buenos Aires. O encontro foi fora do padrão da negociação entre os dois países: em geral, Cristina não recebe ministros que respondem a outros governos.

De acordo com a assessoria de imprensa do ministro brasileiro, a partir hoje os escalões técnicos dos dois países retomam os contatos bilaterais para a discussão de temas como o regime automotivo, os investimentos do setor privado entre ambos os países e o fluxo comercial.

O processo de negociação esteve paralisado ao longo do mês de maio, mesmo após uma visita da presidente Dilma à Argentina, no dia 25 de abril. Nos últimos meses, uma série de eventos estremeceu a relação entre os dois países, que já vinha fragilizada desde o início de 2012, quando a Argentina adotou barreiras informais às suas importações.

Em março, a mineradora Vale cancelou um investimento de extração de potássio na província de Mendoza. Em abril, a Duratex fechou uma fábrica da Deca no país. Logo após a visita de Dilma, a Petrobras rejeitou uma proposta de compra de ativos feita pelo empresário Cristobal Lopez, próximo ao governo argentino. Finalmente, há 15 dias, o governo de Cristina cancelou a concessão ferroviária da ALL Logística.

Segundo a assessoria de Pimentel, as negociações devem ser concluídas antes do próximo encontro entre as duas presidentes, que será realizado no dia 12 de julho, em Montevidéu, durante a reunião de cúpula dos países-membros do Mercosul.