quarta-feira, 15 de maio de 2013

Fuga de Detroit

 

Por Agências internacionais
 
A outrora pujante capital do automóvel nos Estados Unidos está à beira da insolvência. Detroit, berço das principais montadoras do país, vem há décadas enfrentando a decadência provocada pelo fechamento de postos de trabalho no setor. Mas, agora, a situação se agravou.
A cidade está sob intervenção do Estado de Michigan desde março. Kevyn Orr, o interventor designado pelo governador Rick Snyder, divulgou anteontem seu relatório sobre as finanças da cidade, com um diagnóstico sombrio.
Segundo Orr, Detroit está quebrada e corre o risco de ficar completamente sem dinheiro, o que pode deixar servidores sem pagamento, aposentados sem benefícos e levar a cortes nos serviços municipais. O motivo, disse ele, é o alto endividamento, que já chega a US$ 15,7 bilhões, além de um déficit que chegará a US$ 386 milhões em 30 de junho.
Uma das causas do déficit é o fechamento de milhares de empresas que contribuíam para a Previdência. O percentual de trabalhadores ativos contribuindo para o plano geral de aposentadorias municipal caiu a 39% em 2011 contra 51% em 2004, enquanto o pagamento a aposentados subiu para 70% da folha de pagamento, contra 35% em 2004, disse Orr.
Se a cidade não conseguir reduzir o pagamento de suas dívidas, a única solução para evitar um desastre seria decretar falência, uma ameaça que paira sobre os esforços de Orr para fazer acordos com credores e detentordes de títulos da dívida. Ele disse que buscará concessões desses grupos para manter Detroit respirando. "Nós não podemos continuar fazendo o que temos feito", disse ele a jornalistas. "[A situação] é provavelmente um pouco pior do que eu esperava. É grave. Quer dizer, é terrível."
Ontem, a empresa de classificação de risco Standard & Poor's cortou a nota de crédito do Condado de Wayne, onde fica Detroit, para BBB, pouco acima da categoria de "crédito podre", por causa da queda do valor dos imóveis e do desequilíbrio fiscal. Segundo a S&P, a nota reflete "a deterioração financeira causada sobretudo por um amplo desequilíbrio estrutural".
Ainda ontem, o prefeito Dave Bing disse que não concorrerá à reeleição, mas afirmou que fará campanha para se tornar executivo do Condado de Wayne. Negro, ex-executivo de uma empresa de autopeças e também ex-jogador de basquete do Detroit Pistons, Bing é um prefeito impopular, devido em grande parte à situação financeira da cidade. Sua popularidade tão em baixa que, em pesquisas de intenção de voto, ele está atrás de Mike Duggan, um ex-adiminstrador de hospital que, se eleito, será o primeiro prefeito branco de Detroit em 44 anos. A cidade tem 82% da população negra e um extenso histórico de conflitos raciais. Uma pesquisa de 30 de coloca o prefeito com apenas 11% das intenções de voto, atrás de Duggan e do xerife do condado, Benny Napoleon.
A decadência de Detroit já vem de décadas e se reflete inclusive no tamanho de sua população. A cidade tinha 1,8 milhão de habitantes na década de 1950. Nas décadas seguintes, sobretudo com a concorrência dos automóveis asiáticos no mercado americano, os empregos foram sumindo. Hoje, a população é de pouco mais de 700 mil habitantes. Uma pesquisa em 2009 mostrou que cerca de 20% dos 400 mil imóveis da cidade estavam vazios.