quarta-feira, 3 de julho de 2013

Montadoras dos EUA passam a ser uma potência exportadora

 

The Wall Street Journal, de Marysville, Ohio
 
A indústria automobilística dos Estados Unidos, que há apenas quatro anos estava em frangalhos, emerge agora como uma potência de exportação, impulsionada pelo câmbio e por custos trabalhistas favoráveis, tendência que, segundo especialistas, pode permanecer por muitos anos.
Em um sinal da recuperação, a Honda Motor Co., que já importou para os EUA muitos carros fabricados no Japão, espera até o fim de 2014 exportar um número maior de veículos produzidos na América do Norte - quase todos em linhas de montagem americanas - do que os que traz do Japão.
No ano passado, mais de um milhão de carros e caminhonetes foram exportados pelas fábricas das montadoras nos EUA, número recorde e mais de o triplo registrado em 2003, segundo a Administração de Comércio Internacional dos EUA.
Custos trabalhistas menores e reestruturações que fecharam fábricas improdutivas fortaleceram a competitividade global das unidades das montadoras nos EUA. Algumas estão considerando a produção no país uma alternativa para atender os mercados emergentes em expansão.
Até o fim de 2014, a Chrysler espera exportar até 500.000 veículos por ano para mercados fora da América do Norte, mais que o dobro dos 210.000 do ano passado. A vasta maioria dessas exportações sai de fábricas nos EUA.
"O que mudou é o nosso foco nos mercados internacionais", disse Mike Manley, diretor-presidente da marca Jeep, da Chrysler. A Chrysler, que tem a Fiat como controladora, está usando as conexões da montadora italiana para ampliar suas vendas na Rússia, China e outros lugares. "Adotamos uma postura muito diferente, mais agressiva, sobre como podemos crescer com os recursos que temos hoje", disse.
O valor financeiro dos automóveis que entram nos EUA ainda é maior que o dos que são exportados. O déficit comercial do setor automobilístico do país foi de US$ 105,5 bilhões no ano passado, quase o dobro dos US$ 51 bilhões obtidos com as exportações de veículos. Ainda assim, o setor representou apenas 14,5% do déficit comercial geral dos EUA em 2012, ante 22% em 1987.
Poucas montadoras estão planejando uma mudança tão drástica quanto a Honda. No ano passado, ela exportou 90.000 veículos da América do Norte. Ela tem como meta elevar esse número para 200.000 por ano, beneficiando-se de expansões de fábricas no país e da desvalorização da moeda americana. O dólar se fortaleceu este ano e ontem US$ 1 valia US$ 100,44 ienes. Mas ainda assim a cotação da moeda americana está bem abaixo do nível de 2007, quando eram necessários 120 ienes para comprar um dólar.
Os carros fabricados nos EUA estão sendo enviados para a China, o maior mercado automobilístico do mundo, a Arábia Saudita, o segundo maior mercado para os carros dos EUA. Também entram na lista dos principais mercados a Alemanha e a Coreia do Sul, que agora tem um acordo de livre comércio com os EUA.
Na unidade da Ford Motor Co. em Chicago, 25% da produção do utilitário esportivo Explorer é despachada para fora da América do Norte. Em sua fábrica em Illinois, a Chrysler monta Jeeps com motores a diesel para clientes europeus.
De certa forma, a GM e a Ford nunca sentiram a necessidade de vender ao exterior os veículos que produzem nos EUA porque foram líderes na globalização, abrindo fábricas na Europa e outros lugares no início do século passado. O forte crescimento das exportações de automóveis produzidos nos EUA é, em parte, fruto dos processos de recuperação judicial da Chrysler e da GM liderados pelo governo americano há quatro anos, que fechou fábricas improdutivas, e do dólar mais fraco, que tornou os produtos americanos mais competitivos no exterior.
Acordos trabalhistas pavimentaram o caminho para que as duas montadoras contratassem funcionários com salários mais baixos do que os pagos antes. A Ford, que promoveu uma reestruturação sem a intervenção do governo, também fechou acordos sindicais semelhantes.
A enxuta indústria americana contrasta com as da Europa e Japão, que sofrem com o excesso de capacidade, aumento dos custos trabalhistas e diminuição da demanda doméstica. Dados preliminares de junho indicam que as vendas de automóveis nos EUA apresentaram o maior crescimento em cinco anos.
Em 2012, a BMW exportou cerca de 70% da sua produção na Carolina do Sul. A Mercedes-Benz, da Daimler AG, também exportou cerca de 70% do que produziu no Alabama. A Toyota exportou 124.000 carros feitos nos EUA, acima dos 86.000 de 2011.
O aumento das exportações de veículos nos EUA também está gerando empregos bem longe do coração da indústria automobilística. Os modelos da Jeep enviados para a China e outros mercados da Ásia, por exemplo, saem agora por Grays Harbor, em Washington. Nos anos 90, o porto enfrentou dificuldades com a queda das exportações. Hoje, o que se vê é uma intensa movimentação de carros sendo embarcados.



 

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