quarta-feira, 25 de abril de 2012

China visa emergentes para exportar carro barato



Por Chester Dawson e Sharon Terlep
The Wall Street Journal, de Pequim

À medida que o crescimento doméstico enfraquece, as fábricas de automóveis da China estão aumentando suas ainda minúsculas exportações, acirrando a concorrência com marcas locais e estrangeiras e endurecendo o jogo nos mercados automobilísticos mundiais, em particular na América do Sul.

Os veículos fabricados na China e agora sendo enviados ao exterior ainda não são uma ameaça para os mercados desenvolvidos dos Estados Unidos e da Europa, onde carros chineses enfrentariam uma avaliação rigorosa do consumidor. Mas os carros baratos estão fazendo incursões por mercados emergentes em rápido crescimento como África, Ásia e América Latina.

A investida internacional foi liderada pelas montadoras domésticas, que cada vez mais têm a bênção de Pequim para abordar mercados externos. A Geely Holdings Group Co. quase dobrou suas exportações de carros de passeio no ano passado comparado com 2010, para 39.600 veículos, o que respondeu por 9% de seu volume de vendas. A Chery Automobile Co. e a Great Wall Motors também estão aumentando suas exportações.

As exportações de carros e caminhões da China subiram 50% no ano passado, para 849.500 veículos, de acordo com a Associação dos Fabricantes de Automóveis da China. Essas exportações devem crescer num ritmo semelhante pelos próximos anos. A maioria dos veículos exportados custa bem menos de US$ 15.000, com alguns sendo vendidos por meros US$ 6.000.

Tal impulso para exportar acontece em meio a receios de que a China possa estar diante de um excesso de produção. As montadoras estrangeiras e suas sócias chinesas estão correndo para aumentar a capacidade, na esperança de que o mercado vá crescer das 18,5 milhões de unidades de hoje para pelo menos 30 milhões até o fim da década.

As fábricas da China operaram em 81% da sua capacidade no ano passado, abaixo dos 88% de um ano antes, disse num relatório Adam Jonas, analista do banco Morgan Stanley.

Este ano, espera-se que o crescimento do mercado de automóveis da China fique em um único dígito como em 2011, depois de ter crescido 10% ou mais anualmente nos últimos dez anos.

Analistas da indústria disseram que qualquer excesso de capacidade será provavelmente sentido mais pelas marcas chinesas, que têm somente cerca de 30% do mercado nacional. Prejudicadas por uma reputação de baixa qualidade e mau serviço ao consumidor, as montadoras chinesas cada vez mais têm que recorrer aos preços para competir.

"A lucratividade das exportações é melhor que a obtida com a venda de carros no mercado doméstico. Então, recentemente nós vimos as exportações da China crescerem bem rápido", disse Boni Sa, um gerente em Xabgai da IHS Automotive que faz previsões sobre veículos leves.

"O tipo de carro de baixa qualidade que vem da China simplesmente não é viável para a América do Norte ou a Europa, a menos que seja um veículo especial direcionado para um nicho", disse Rudy Schlais, um ex-executivo sênior da GM que gerencia a consultoria ASL Automobile Science and Technology, de Xangai.

Mas Schlais observa que os carros de passeio da China estão aproveitando-se de mão-de-obra barata e de vastas economias de escala para se estabelecer nos países de maior crescimento.

A Geely pretende vender um milhão de carros por ano no exterior até 2015, perto de metade do total da sua meta de venda. Entre seus mercados principais estão a Ucrânia, a Rússia, a Arábia Saudita, o Iraque, o Chile e o Sri Lanka.

Os novos concorrentes foram tão bem-sucedidos que mesmo algumas montadoras estrangeiras pressionaram o governo brasileiro para conter a entrada das chinesas no Brasil.

A concorrência mais forte na América do Sul levou a GM este mês a fazer acordo com sua sócia chinesa, a Shanghai Automotive Industry Corp., para exportar para o continente alguns modelos Saic feitos na China.

Na China, as montadoras estrangeiras também estão aumentando a competição no segmento de carros de margem pequena que é dominado pelas empresas chinesas.

Algumas marcas estrangeiras na China estão se dirigindo ao exterior. A GM, que fabrica carros na China através de uma sociedade com a Saic, mais que triplicou suas exportações da China no ano passado, para 48.000 veículos.

Muitos desses veículos acabaram na América do Sul, onde a GM vende minivans comerciais feitas na China e o seu carro compacto Chevrolet Sail em países como a Colômbia, o Equador e o Peru. Ela também exporta alguns veículos para o Egito e Líbia.

A Ford está adotando uma abordagem diferente para lidar com a competição dos fabricantes chineses na América Latina. Joe Hinrichs, diretor da montadora na Ásia, disse que a Ford está reduzindo custos através do compartilhamento de peças.

A vantagem da China de ter um custo baixo se anula quando os custos com logística, tarifas e outras despesas são levados em conta. "Ainda faz sentido fabricar os veículos onde nós os vendemos", disse ele.

Nenhum comentário:

Postar um comentário