terça-feira, 13 de setembro de 2011

Toyota está pronta para retomar liderança

Valor 13/09

A Toyota está pronta para disputar de novo a liderança mundial do mercado de carros, depois de dois duros golpes causados pelo terremoto no Japão e por uma crise de imagem nos Estados Unidos. Quem faz a aposta é o professor Jeffrey Liker, da Universidade de Michigan, autor do bestseller "O Modelo Toyota", um dos maiores estudiosos da estratégia de gestão da empresa. "A Toyota estará de volta em outubro", afirma Liker, que participa hoje e amanhã de uma conferência no Brasil organizada pela Qualiplus Consultoria Empresarial.


A Toyota certamente perderá a liderança em vendas neste ano, devido ao terremoto. "Não precisa ser doutor em matemática para saber que, depois de a produção ser prejudicada por seis meses, eles vão perder a liderança", afirma Liker. Mas hoje, afirma, a Toyota já têm acesso a todas as peças de que precisa e, agora, está recompondo os estoques nas revendedoras. Há grande expectativa em torno do lançamento de um novo modelo do Camry nos EUA em outubro, cujas versões anteriores fizeram sucesso no disputado segmento de carros de médio porte.

O terremoto ocorreu no exato momento em que a Toyota emergia de uma crise de imagem nos EUA. Um acidente causado em 2009 pela aceleração súbita de um modelo Lexus levou os americanos a questionar a segurança dos carros. Mas, depois de muita exposição negativa na imprensa e de um depoimento do presidente da montadora, Akio Toyoda, no Congresso americano, descobriu-se que não havia nada de errado com os carros da Toyota.

O terremoto e a crise de imagem, porém, expuseram fragilidades como a concentração excessiva das decisões e do processo produtivo no Japão. Durante a crise de imagem nos EUA, os executivos locais não deram uma resposta mais rápida porque esperavam orientação da matriz. No terremoto, a Toyota não encontrou fornecedores alternativos de peças porque sua produção é bastante concentrada no Japão.

Haveria algo errado com o modelo Toyota? "Não existe nada no modelo Toyota que possa causar esses problemas", afirma Liker. A filosofia da montadora, afirma, prevê lidar abertamente com os problemas e se adaptar às culturas e legislação locais. "O problema é que eles não seguiram o modelo Toyota." Toyoda, descendente dos fundadores da empresa, elegeu entre as suas prioridade voltar para os princípios básicos do modelo Toyota.

Uma das lições que a Toyota aprendeu com o terremoto, afirma Liker, é conhecer melhor os seus fornecedores. Quando o desastre interrompeu o suprimento de peças, a montadora japonesa descobriu que não conhecia todos os integrantes de sua cadeia produtiva. Havia contatos com os fornecedores diretos, mas nem sempre com os fornecedores dos fornecedores.

Hoje, a Toyota já tem um mapa de seus fornecedores diretos e indiretos e, agora, está atuando para minimizar os riscos de rupturas. Outra lição, afirma Liker, foi adotar peças padrões para um número maior de veículos, em vez de componentes que servem para poucos modelos.

Muitos veem a excessiva concentração da produção da Toyota no Japão como um problema, sobretudo com os altos custos de mão de obra e o iene valorizado. Liker mostra que há algum mito nisso. Nos Estados Unidos, por exemplo, a montadora é a que tem o maior conteúdo local. Mas é fato, reconhece Liker, que a Toyota produz bastante no Japão.

"Essa é uma decisão de negócio", afirma Liker. "Eles se sentem leais ao país, cuja economia atravessa momentos difíceis em parte porque empresas locais estão transferindo suas fábricas para países com custos mais baixos de mão de obra." No caso do terremoto no norte do Japão, afirma o professor, o senso ético da Toyota falou mais alto - e a companhia manteve operações na região.

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