segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Crescem riscos para o setor automobilístico na China


Por Sharon Terlep | The Wall Street Journal

A maior montadora do mundo está passando por alguns buracos na estrada enquanto acelera no maior mercado automotivo do planeta.

A General Motors Co. vai realizar esta semana em Xangai a reunião do seu conselho de administração. A cidade é onde ela tem sua principal joint venture chinesa, com a Shanghai Automotive Industry Corp. É a primeira reunião do conselho da GM a ser realizada na Ásia e apenas a quarta já feita fora dos Estados Unidos. A reunião vai incluir visitas a fábricas e eventos de debate com grupos de empregados.

Mas em meio à toda a pompa e circunstância, as dificuldades de fazer negócio na China estão ficando evidentes para a gigante americana. Um exemplo recente: a GM gostaria de lançar seu modelo elétrico Volt na China. Mas o diretor-presidente Dan Akerson disse que se recusa a compartilhar a tecnologia de veículos elétricos em troca dos generosos descontos que o governo chinês fornece aos compradores, o que impulsionaria as vendas do modelo.

"Existem riscos de tecnologia, riscos de relacionamento, riscos empresariais. Tenho certeza que a China vai fazer o que é melhor para a China", disse Akerson numa entrevista ao Wall Street Journal. "Mas se você ignora a China, o risco é seu."

O atrativo é o crescimento estarrecedor da China. Foram vendidos apenas pouco mais de um milhão de veículos leves no país em 2000. Ano passado, o número atingiu 16,6 milhões, ante 11,6 milhões nos EUA. A J.D. Power and Associates, importante consultoria americana do setor, prevê que o mercado chinês vai atingir 33 milhões de veículos em 2018 - mais que os EUA e a União Europeia juntos. E o baixo custo de produção e mão-de-obra tem garantido margens de lucro suculentas na China.

Tudo isso incentivou as montadoras dos países ricos a engrenar a quinta marcha no país. A Ford Motor Co. planeja construir quatro novas fábricas na China até o fim de 2015, lançar 15 novos veículos e dobrar o número de concessionárias. A Volkswagen AG, segunda maior montadora no país, atrás da GM-Saic, tornou a China o centro de seu plano mundial de expansão. A Hyunday Motor Co., enquanto isso, negocia com o sócio chinês Beijing Automobile Industry Holding Co. para criar uma marca exclusivamente chinesa.

Mas essa euforia já recebeu alguns banhos de água fria. Executivos do setor dizem temer que a corrida para construir fábricas causará um excesso de capacidade no futuro parecido com o que acabou contribuindo para o colapso da indústria automotiva americana. E eles temem a mão pesada do governo chinês, que obriga empresas estrangeiras a ter um sócio local e dividir os lucros com ele para poder fazer negócio na China.

Os planos de expansão da Ford mais que dobram sua presença na China. A montadora ainda não decidiu até que ponto vai agradar o governo em compartilhamento de tecnologia. Se a Ford começar a vender carros elétricos na China, disse uma porta-voz, "vamos determinar no momento apropriado quanto da tecnologia vamos compartilhar com nossa joint venture, se é que vamos compartilhar".

"O potencial da China é incrível mas há restrições significativas para entrar no país e alguns obstáculos e barreiras para realmente aproveitar seu potencial completo", diz Rebecca Lindland, analista da IHS Global Insight. "Pode haver uma implosão se algo der errado e todo mundo tiver apostado na bonança chinesa."

Também há outras pedras no caminho automotivo da China. O crescimento das vendas desacelerou este ano depois que o governo chinês adotou medidas para esfriar a expansão, como um limite para o número de veículos que uma pessoa pode comprar. O Banco de Desenvolvimento Asiático reduziu de 9,6% para 9,3% a previsão de crescimento do país em 2011, embora o número ainda represente uma expansão acelerada se comparado às lentas economias dos EUA e da Europa Ocidental. Os analistas, por sua vez, também reduziram as estimativas de vendas de automóveis na China.

Outro problema: as montadoras chinesas querem uma fatia maior do mercado interno e estão se expandindo rapidamente. As montadoras locais tinham 29% do mercado chinês em 2010, o menor índice de participação do capital interno entre os maiores mercados automotivos, segundo a consultoria AlixPartners. No Japão e na Coreia do Sul as montadoras locais tinham 95% do mercado; nos EUA eram 43%.

E também há o excesso de capacidade. Numa pesquisa recente da KPMG com executivos multinacionais do setor, um quarto dos entrevistados disse esperar que a China tenha 20% a mais de capacidade de produção de automóveis do que o necessário daqui a cinco anos.

Li Shufu, presidente do conselho da Zhejiang Geely Holding Group, maior montadora privada da China, disse que o excesso de capacidade é uma preocupação, mas que sua empresa vai levar adiante mesmo assim a sua expansão. Desde que a Geely comprou a sueca Volvo Cars, da Ford, no ano passado, a montadora sueca já autorizou a construção de uma linha de montagem na cidade de Chengdu, no sudoeste da China, e também tem planos de construir outra em Daqing, no nordeste. A meta da Volvo é vender 200.000 carros na China até 2015. Ela vendeu 30.000 no ano passado.

"Ha marcas demais, empresas demais, e algumas não sobreviverão", disse o diretor executivo da AlixPartners, John Hoffecker.

Akerson, da GM, compara a China atual aos EUA do início do século passado, quando o mercado estava nascendo a todo vapor e empresas do mundo inteiro correram para ele. As empresas competiram para construir fábricas e lançar marcas e modelos para atender à demanda até que havia mais veículos que demanda. Dezenas de montadoras americanas faliram. "Tivemos um boom e um colapso nos EUA e, queira ou não, isso também vai acontecer na China", disse ele.

Akerson está determinado a crescer na China e preparado para investir bilhões nisso. Ele disse que a empresa vai construir três fábricas nos próximos anos e estuda planos de produzir localmente vários modelos da marca de luxo Cadillac para o mercado chinês.

A GM foi uma das primeiras montadoras a entrar no mercado chinês, em 1999. Com a sociedade da Saic e outras joint ventures, a GM é a maior montadora da China, com 13% do mercado. As vendas da montadora no país subiram 5,4% este ano. Mas ano passado elas subiram quase 30%.

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