quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Sinais de enfraquecimento


Venda e emplacamento de veículos não dão sinais de retração

Por Marli Olmos - Valor 24/08

Nos últimos meses, a expansão das vendas veículos superou-se a cada mês. Por isso, é compreensível que o mercado ainda não tenha dado sinais de retração. Do início de janeiro até segunda-feira passada, a quantidade de veículos que passaram pelos órgãos de trânsito para licenciamento acumulou um crescimento de 7,82% na comparação com igual período em 2010, num total de 2,259 milhões de unidades, incluindo caminhões e ônibus.

No acumulado de agosto, o que equivale a 16 dias úteis, foram emplacados em todo o país 215,9 mil veículos. Isso representou uma média diária de 13,4 mil unidades. Trata-se de um volume ainda bom, mas está abaixo dos níveis registrados pelas indústria desde o início do ano. O pico do ano foi em janeiro, com 14,8 mil unidades.

Por enquanto, não houve nenhum grande movimento da indústria automotiva para frear a produção, exceto a suspensão de horas extras aos sábados na General Motors e Volkswagen . Mas na cadeia de fornecedores, essas medidas em dois dos principais clientes, já indica que a luz amarela acendeu. O setor ainda espera o fim do mês para tomar atitudes mais drásticas para frear o ritmo de produção. Agosto será o mês com maior número de dias úteis no segundo semestre, num total de 23.

Entre os fabricantes de automóveis, não há ainda mudanças de previsões para o ano, que até aqui indicavam médias de crescimento em torno de 5%. Se o ritmo de vendas continuar como está, agosto terminará com pelo menos 310 mil veículos licenciados em todo o país. Trata-se de um volume muito próximo de agosto de 2010, quando o total chegou a 312,7 mil.

Os executivos apostam, no entanto, num número maior, já que já se transformou numa tradição no setor trabalhar para vender mais nos últimos dias do mês. É na última semana que se concentram feirões e toda a sorte de promoções, uma espécie de batalha entre as marcas para conseguir avançar pontos na participação de mercado.

Consórcio e leasing não compensam queda do CDC



A fatia financiada da vendas de veículos para pessoas físicas se reduziu no primeiro semestre, ao mesmo tempo em que as taxas de inadimplência subiram. As medidas macroprudenciais adotadas pelo Banco Central fizeram o Crédito Direto ao Consumidor (CDC) desacelerar. Não houve retração, mas queda na taxa de crescimento. O leasing, um substituto histórico do crédito, não chegou a reverter sua trajetória de queda e continuou a minguar. Certa migração do CDC ocorreu para o consórcio de veículos, que aceleraram, mas a compensação foi apenas parcial. Somando os novos negócios fechados nas três frentes, o semestre teve um total de R$ 75,2 bilhões em operações (feita a ressalva de que o consórcio, tecnicamente, não é crédito), contra R$ 68 bilhões nos primeiros seis meses, alta de 10,56%. No mesmo período do ano passado, o crescimento desse bolo havia sido de 29,79%.

A desaceleração mais notável aconteceu no CDC. Pressionada pelas medidas macroprudenciais, a modalidade cresceu 9,85% no semestre, contra astronômicos 81,26% de crescimento em igual período de 2010. No ano passado, entretanto, parte do expressivo crescimento deveu-se a uma migração de clientes vindos do leasing. No primeiro semestre de 2010, enquanto as concessões no CDC de veículos cresceram R$ 20 bilhões, o leasing encolheu R$ 9 bilhões, sugerindo que houve uma transferência.

Neste ano, o consórcio de veículos leves e motos aumentou 48,3% no primeiro semestre, totalizando R$ 23,7 bilhões. Porém, as cotas de consórcio vendidas agora não têm impacto imediato sobre as vendas, já que a contemplação depende de sorteio ou lance para ser antecipada. É por isso que já circula a expectativa de que, com o crédito mais fraco, o setor não atinja a meta de vendas do ano.

A desaceleração do CDC, foi resultado da atuação do Banco Central, que, entre outras medidas, aumentou o requerimento de capital para operações de financiamento de pessoa física no longo prazo, em dezembro. Como consequência, acabaram planos de financiamento de veículos em 72 meses e o valor de entrada subiu. O BC também duplicou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) no crédito de pessoa física, encarecendo parcelas de financiamentos.

O financiamento mais caro afastou o consumidor de baixa renda das concessionárias. "É essa parcela de menor renda que estamos deixando de crescer", diz Décio Carbonari, presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef). Para Carbonari, a perda de capacidade de financiamento deve segurar a venda de veículos, que pode ficar abaixo do esperado pelo setor. "Receio que o objetivo de vendas do ano acabe impactado".

As medidas macroprudenciais também estão associadas ao aumento da inadimplência no semestre. A taxa pulou de 2,6% em janeiro para 3,8% em junho, subindo sem descanso mês a mês.

Como consequência da desaceleração do crédito, houve acréscimo na fatia de carros vendidos à vista. Segundos dados da Anef, o percentual dos automóveis comprados à vista saiu de 37% no 4º trimestre de 2010, para 40% no 2º trimestre de 2011.

O ingrediente que ajudou o crédito a manter algum fôlego no semestre foram as promoções que algumas financeiras fizeram em conjunto com montadoras - as famosas "taxa zero". Porém, para o segundo semestre, a capacidade de fazer esse tipo de oferta pode estar ameaçada.

É o caso do Banco Volkswagen. "Em termos de banco, a montadora teve que desenvolver ações coordenadas com taxas promocionais", diz Marcos Ferreira, gerente de marketing e desenvolvimento de negócios da financeira. Contudo, para o segundo semestre o ritmo de ações promocionais deve cair, o que pode comprometer a meta de vendas da montadora - que subiram 8% no semestre frente expectativa de 10%. "Não sei se chegará no previsto", diz Ferreira.

Apesar do pessimismo, o Banco Volkswagen teve um desempenho superior ao do mercado, crescendo 20% no semestre, para R$ 2,1 bilhões.

O Banco PSA Finance, que atua nas montadoras Peugeot e Citroen, também acredita que as ofertas tiveram um papel importante. "As promoções com taxas subsidiadas amorteceram o impacto das medidas", diz Nuno Zigue, diretor geral do banco. Na opinião dele, esse tipo de promoção, com entradas altas e prazos curtos, que o banco já adotava antes das medidas, serve como um bom filtro de clientes.

Porém, mesmo com promoções, o banco sentiu impactos negativos, medidos pela queda no número de propostas de crédito que recebe, estimada entre 5% a 10%.

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