quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Novo plano da Fiat busca a "pernambucanização"


VALOR 10/08
Nos próximos dias, a Fiat fará um grande encontro com os principais fornecedores do país. A reunião servirá para testar as chances de repetir em Pernambuco a experiência bem-sucedida em Minas Gerais, que a consagrou como a montadora que melhor conseguiu aproximar fabricantes de componentes da linha de montagem no Brasil. A ampliação da capacidade de produção, que elevará os investimentos de R$ 3 bilhões para R$ 4 bilhões, anunciada ontem, reforça o elenco de atrativos para estimular investimentos de fornecedores.

Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico, Geraldo Julio, três fornecedores já teriam assinado protocolos de intenções para se instalarem no Estado: um fabricante de blocos de motores, um de dispositivos eletrônicos e outro de pistões e bronzinas. O governo estadual conta com pelo menos 40 fabricantes de peças nos arredores da fábrica, o que deverá gerar cerca de 50 mil empregos. Julio diz que está, também, na expectativa de mais uma montadora anunciar investimentos em Pernambuco em setembro.

Os fornecedores sabem que o encontro com a Fiat é o primeiro teste. "Por enquanto é o canto da sereia", diz o executivo de uma multinacional. Cledorvino Belini, agora na presidência da Fiat, foi quem, então no cargo de diretor de compras, conseguiu entre as décadas de 70 e 80 êxito no processo que recebeu o nome de "mineirização". À época, ele convenceu as autopeças de que a Fiat, recém chegada, se transformaria numa grande montadora e que, para isso, compraria altos volumes de quem se instalasse no entorno de Betim (MG). "Até 1990, 80% dos fornecedores estavam fora de Minas; hoje são 30%. Queremos o mesmo em Pernambuco", diz Belini.

Ontem, o executivo convocou a imprensa para anunciar a nova projeção de capacidade da fábrica que deve ficar pronta em março de 2014. O volume anual, inicialmente fixado entre 100 mil e 200 mil carros, vai chegar a 250 mil. Para isso, diz, o investimento aumentará de R$ 3 bilhões para R$ 4 bilhões. Para Belini, o mercado brasileiro "tem condições de proteger a economia do país de solavancos", como a turbulência que sacode Europa e EUA. "Trata-se de uma crise externa, que não conhecemos bem ainda. Crises não afetam nosso investimento. E estamos falando de investimento de longo prazo".

Segundo fornecedores, é mais ou menos óbvio que grandes componentes, como bancos e pneus, deverão ser feitos ao lado da linha de montagem pernambucana. "Não vale a pena pagar frete pelo ar transportado", diz um deles. Mas peças menores podem cruzar o território, como ocorre na Bahia, na maior fábrica da Ford no país.

Projeções otimistas para o mercado sustentaram a decisão de ampliar a capacidade, diz Belini. E foi a necessidade de ganhar eficiência e reduzir custos que levou à mudança de endereço, como antecipou o Valor há duas semanas. A perspectiva de melhor infraestrutura e possibilidade de criar um complexo com os fornecedores fez a empresa trocar o município do Cabo de Santo Agostinho, no litoral Sul, por Goiana, no norte do Estado. Segundo Belini, em Goiana a área, de 14 milhões de metros quadrados, favorece a integração com os grandes fornecedores, além abrir espaço para pista de provas e um centro de desenvolvimento.

Dizer que produzirá volumes maiores do automóvel cujas características ainda não são reveladas pode ajudar na conversa com os fornecedores. Mas, se na "mineirização" pesava o fato de a Fiat ser uma marca nova no país, desta vez, há quem possa levar em conta projetos que falharam, como os carros Mercedes-Benz, em Juiz de Fora (MG) e os da Audi, em São José dos Pinhais (PR). De qualquer forma, a defesa da "pernambucanização" está de novo nas mãos de Belini.

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