quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Brasil vai romper acordo automotivo com o México



Por Sergio Leo - Valor 02/02
De Brasília

O governo decidiu romper o acordo automotivo mantido com o México, por ordem da presidente Dilma Rousseff, que está incomodada com o déficit crescente no comércio de automóveis entre os dois países. A decisão, mais uma de uma série de medidas protecionistas tomadas sem consulta prévia ao Itamaraty, segundo admitem seus autores, deve ser oficializada nos próximos dias, com a volta ao Brasil da presidente e dos ministros do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e das Relações Exteriores, Antônio Patriota.

O acordo automotivo, firmado em 2002, prevê a possibilidade de "denúncia" (anulação), desde que haja comunicação com 14 meses de antecedência. Esse prazo deve ser respeitado, o que significa que só em 2013 os automóveis, partes e peças comprados naquele país passarão a pagar tarifa de importação.

Desde 2009, o que era um saldo positivo para o Brasil no comércio de automóveis entre os dois países tornou-se negativo. No ano passado, com a vantagem de custos pendendo para os mexicanos e o anúncio de possíveis restrições às importações no Brasil, montadoras estabelecidas no país começaram a mudar de fornecedor. Passaram a trazer do México carros antes importados de outros países, como a Fiat, que começou a importar da filial mexicana veículos antes comprados da Polônia.

As importações de automóveis feitos no México aumentaram quase 40% no ano passado, para mais de US$ 2 bilhões, o que, descontadas as exportações àquele país, de quase US$ 372 milhões, resultaram em déficit pouco inferior a US$ 1,7 bilhão. Foi um salto de 162% em relação ao déficit de US$ 642 milhões de 2010. Como reflexo da perda de competitividade dos veículos brasileiros em relação aos mexicanos, as exportações brasileiras para o país caíram quase 40%, de mais de US$ 600 milhões em 2010 para menos de US$ 400 milhões no ano passado.

O tema fez parte da agenda do ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, com autoridades mexicanas, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos. Os mexicanos, irritados, já comunicaram à equipe econômica que até aceitam uma pequena revisão nos termos do acordo, mas a decisão de simplesmente cancelá-lo está tomada. Integrantes da equipe econômica argumentam que o acordo favorece o México em detrimento dos sócios no Mercosul: enquanto automóveis vindos de fábricas mexicanas têm de ter 35% de conteúdo local, os do Mercosul precisam ter 45%.

Fim do acordo afetaria as montadoras tradicionais e também as novas


Por Eduardo Laguna
De São Paulo


Um tradicional parceiro da indústria automobilística nacional, o México chegou a ser ameaçado pela proliferação de carros chineses no Brasil, mas o anúncio de um regime automotivo que bloqueou a entrada de carros asiáticos deu novo fôlego aos mexicanos. Dados da Fenabrave - entidade que representa as concessionárias - mostram que nas importações realizadas no ano passado, o México, cuja participação no total foi de 13,8%, só fica atrás da Argentina (44%) e da Coreia do Sul (19,2%).

Diante de um cenário no qual as importações vêm garantindo a renovação de recorde nas vendas de veículos no Brasil, o fim do acordo comercial atingiria não apenas as grandes montadoras instaladas no país - que usam suas operações mexicanas para complementar o portfólio de produtos no Brasil -, mas também marcas em franco crescimento no país. É o caso da Nissan, que conseguiu dobrar para 2% a sua participação no mercado brasileiro graças ao sucesso de modelos vindos do México, caso do March, Versa, Sentra e Tiida.

Lançado em setembro, o compacto March chegou na lista dos 20 carros mais vendidos no Brasil e será produzido na fábrica que a montadora japonesa planeja erguer em Resende, no Rio.

Pela forte integração entre os mercados, o especialista em indústria automobilística Francisco Trivellato vê como improvável a ruptura do acordo comercial. "Os volumes são tão altos que provavelmente as duas partes chegarão a bom termo. Não consigo ver isso [o fim do acordo] ser concretizado."

Entre as maiores marcas com fábricas no Brasil, responsáveis por 70% das vendas de carros no país, a General Motors traz do México o modelo Captiva e a Volkswagen, o Jetta. A Fiat importa os modelos Fiat 500 e Freemont, enquanto a Ford traz o New Fiesta e o Fusion.

Nenhum comentário:

Postar um comentário