quarta-feira, 26 de setembro de 2012
Salão de Paris é oportunidade para francesas voltarem a brilhar no setor
Por John Reed
Financial Times, de Londres
A PSA Peugeot Citroën e a Renault, duas das fabricantes nacionais da automóveis da França, pretendem deslumbrar o mundo automobilístico em seu território nesta semana, no Salão do Automóvel de Paris, com um desfile de novos modelos.
Na exposição, que começa amanhã, a Peugeot estará apresentando nada menos que 40 carros em seu estande de 3.900 metros quadrados, incluindo o Onyx, um super-carro conceitual esportivo que parece uma casa perto de um Lamborghini.
A Renault vai anunciar a quarta geração de seu Clio hatchback, o primeiro carro de produção em massa projetado por Laurens van den Acker, o diretor de projetos contratado há três anos para apimentar uma linha de modelos que vinha sendo criticada como muito insípida.
Mas as novas rodas reluzentes das montadoras francesas escondem uma crise em que os mercados estão encolhendo e há muitas fábricas fazendo carros muito parecidos. Trabalhadores da fábrica da Peugeot em Aulnay-sous-Bois, nos arredores de Paris, que a montadora está fechando numa tentativa de estancar uma perda de caixa que chega a € 200 milhões por mês, marcaram uma manifestação no Salão do Automóvel para 9 de outubro.
O enorme excesso de capacidade da indústria automobilística europeia e as devastadoras guerras de preços serão motivos de discussão em uma reunião que haverá no salão entre altos executivos como Philippe Varin, da Peugeot, Carlos Ghosn, da Renault/Nissan e Sergio Marchionne, da Fiat.
A Peugeot e a Renault estão, juntamente com a Fiat, Ford e a divisão Opel da General Motors, entre as montadoras mais vulneráveis na atual desaceleração econômica. O mercado automobilístico da França já encolheu 13% este ano e as companhias francesas também sofreram reduções significativas das vendas na Itália e na Espanha, países que passam por recessão.
A Renault, que tem mais negócios fora da França e fábricas de baixos custos na Romênia e no Marrocos, é entre as duas a que está com menos problemas financeiros, conforme Ghosn, certamente, vai enfatizar nas entrevistas que concederá no Salão de Paris.
Entretanto, as duas companhias são especializadas em carros pequenos e de baixas margens, os mais vulneráveis à guerra de preços que está levando a maior parte das montadoras do continente a ter perdas financeiras este ano. A PSA Peugeot perdeu € 819 milhões antes dos impostos no primeiro semestre; a Renault, ajudada pelas subsidiárias, que incluem a Nissan, registrou um lucro líquido bem menor de € 786 milhões e terminou o primeiro semestre com o caixa negativo em € 200 milhões.
As duas companhias estão sendo espremidas por cima pelos fabricantes alemães de carros de luxo e pela Volkswagen, e por baixo pelas fabricantes sul-coreanas em ascensão: Hyundai e Kia. A Volks e os coreanos vêm tomando participação de mercado dos franceses no mercado doméstico, o que já levou Arnaud Montebourg, o ministro da Indústria da França, a acusar a Hyundai e a Kia de "dumping", o que as companhias negam.
"Isso é crítico para a Peugeot e a Renault", diz Emmanuel Bulle, analista da Fitch Ratings. "Elas estão espremidas e serão trituradas de um lado pelos alemães, que estão entrando em categorias inferiores, e pelos coreanos, que estão seguindo o mesmo caminho que os japoneses há poucos anos, oferecendo produtos melhores."
Em Paris, a Volks vai anunciar a sétima geração do Golf, um grande sucesso perene de vendas na Europa. A Volks vai fabricá-lo em uma arquitetura compartilhada com o A3 da Audi e vários outros veículos, permitindo a ela alavancar uma vantagem de custo que está ajudando cada vez mais a montadora alemã a superar seus concorrentes.
Além do poder de marca mais forte da Volks e das maiores economias de escala, o grupo pode conseguir financiamentos mais baratos que seus concorrentes mais fracos, que ela pode repassar para os clientes na forma de financiamentos automotivos mais baratos. "Em termos do custo total de posse, faz muito mais sentido para um consumidor recorrer a um produto alemão - os custos de financiamento são menores e os valores residuais são maiores", afirma Erich Hauser, analista do Crédit Suisse.
As montadoras francesas têm duas escolhas: lutar com a Volks e os coreanos modelo a modelo, ou fazer uma retirada estratégica de mercados ou segmentos em que elas não podem fazer isso.
A Fiat, que diminuiu bem o número de lançamentos nesta crise, está adotando a primeira estratégia. A companhia, aparentemente calculando que faz pouco sentido lançar modelos em um mercado onde não consegue ganhar dinheiro, não estará exibindo nenhum modelo novo no salão.
No entanto, as duas montadoras francesas - especialmente a Peugeot - estão respondendo vigorosamente ao desafio da Volks e dos coreanos com novos modelos voltados para os mesmos compradores de automóveis da Europa e outros países. "A Peugeot tem mais produtos em lançamento que a maioria das outras montadoras", diz Jonathon Poskitt, diretor de previsão de vendas da LMC Automotive para a Europa.
A Peugeot vai oferecer o conceito 2008, um veículo crossover voltado para os consumidores urbanos de mercados emergentes, que a companhia diz que vai produzir na França, China e Brasil. Sua marca irmã Citroën vai apresentar uma versão cabriolet de seu modelo sofisticado DS3.
A Renault, visando a lucrativa faixa mais barata do mercado, vai exibir as versões da segunda geração de sua marca romena Dacia, o modelo fechado Logan e o hatchback Sandero. Ghosn já disse que consegue uma margem de lucro de mais de 6% com seus modelos de baixos custos.
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