sexta-feira, 28 de setembro de 2012
Salão de Paris abre em tom melancólico
Valor 28/09
Em tempos de crise no mercado doméstico, a indústria automotiva europeia abriu, ontem, melancolicamente o Salão do Automóvel de Paris à imprensa internacional. Depois de onze meses seguidos de queda nas vendas de carros e alta ociosidade nas fábricas, o enxugamento do parque de produção parece ser um caminho inevitável para alguns dos dirigentes das principais montadoras na região.
O risco do fechamento de mais fábricas foi citado no evento de ontem pelos presidentes globais da Renault - Nissan, Carlos Ghosn, e da Fiat, Sergio Marchionne.
Mas antes disso, em premiere da Volkswagen na noite de quarta-feira, o presidente do conselho de administração da montadora alemã, Martin Winterkorn, já reconhecia que o salão francês começaria em um momento de turbulência, cuja extensão é totalmente imprevisível.
O brasileiro Ghosn, que vem atribuindo o cenário negativo à situação de competitividade no continente, considerou que a crise será de longo prazo e 2013, provavelmente, será ainda pior do que 2012, quando o mercado europeu recua 7,1%.
"Infelizmente, não vemos uma situação melhor até o fim do ano", comentou o executivo a jornalistas ontem, acrescentando que, na melhor das hipóteses, o mercado vai se estabilizar nos baixos volumes atuais durante o ano que vem.
Já Marchionne foi menos contundente nas declarações, mas disse ver crescer a possibilidade de fechamento de fábricas após cinco anos de retração nas vendas de carros na Europa.
Desde setembro do ano passado, os emplacamentos de carros na União Europeia não conseguem mostrar crescimento comparativamente a igual período do ano anterior. Nos mercados da França e da Espanha, por exemplo, as vendas recuam 13,4% e 8,5%, respectivamente, enquanto que na Alemanha, maior mercado europeu, houve declínio de 0,6% de janeiro a agosto.
Estimativas não oficiais indicam uma ociosidade de quatro a cinco milhões de carros nas fábricas da Europa. "O clima é pesado, o contexto é duro e não é simples", resume o executivo português Carlos Gomes, presidente da PSA Peugeot Citroën no Brasil e na América Latina.
"Na Europa, a indústria terá que se articular em termos de capacidade. Há que redimensionar o aparelho produtivo europeu", diz o executivo. Entre os maiores atingidos pela derrocada no mercado automotivo europeu, a PSA decidiu fechar sua fábrica em Aulnay-sous-Bois, nos arredores de Paris.
Segundo Ghosn, a indústria é capaz de administrar excessos de capacidade por um prazo longo, de até dois anos. Mas o problema, disse ele, é quando essa situação acontece sem que exista uma visão clara sobre como enfrentá-la, o que leva fabricantes a considerar cortes de capacidade produtiva.
"Não quero dizer que a Europa não encontrará uma saída, mas a dúvida é sobre quanto tempo isso vai levar", afirmou Ghosn, que prevê um longo percurso para a recuperação do mercado europeu.
Enquanto a Europa, assim como o Japão, é um dos focos de atenção do grupo, o presidente da Renault-Nissan afirmou não ter preocupação com a desaceleração da economia chinesa, onde está o maior mercado de carros do mundo. Não estou preocupado com a China", comentou o executivo, justificando a avaliação pelos investimentos em infraestrutura e o baixo déficit orçamentário do país asiático.
Ghosn evitou cobrar estímulos públicos e lembrou que, no fim das contas, caberá a cada montadora superar essa crise na Europa.
Por parte da Renault-Nissan, seu presidente afirmou que as marcas manterão o foco na busca por mais sinergias, com maior coordenação em processos de manufatura e compras conjuntas. "Podemos fazer mais", disse Ghosn, após avaliar que as duas marcas já teriam desaparecido não fosse a aliança feita em 1999, levando-se em conta as crises enfrentadas desde então.
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