sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Brasil cresce no aquecido mercado argentino


Por César Felício | De Buenos Aires - Valor 18/11

O hiperaquecimento do mercado argentino de automóveis deve acabar no próximo ano, mas está garantindo a ressurreição das exportações de veículos brasileiros para o país. De janeiro a outubro de 2011, houve um aumento de 67% nas exportações brasileiras do grupo PSA, que produz as marcas Peugeot e Citroën. A empresa enviou 22,7 mil carros nos dez primeiros meses do ano. O fluxo contrário oscilou 2,6% para cima, avançando para 48 mil automóveis argentinos enviados ao Brasil.

Das principais montadoras, a PSA é a única que divide a sua produção entre Brasil e Argentina em partes relativamente iguais, com uma produção da ordem de 160 mil veículos em cada País. O quadro se manteve em 2011, porque as fábricas fazem uma produção integrada: a unidade na Argentina concentra a produção de veículos pequenos e médios e a do Brasil de veículos médios e grandes.

A fatia brasileira de produção está ampliando este ano 15,9% e a fatia argentina, 17,6%. %. Cerca de 62% da produção argentina é destinada ao Brasil e um sexto da produção brasileira faz o caminho contrário. Mas a dinâmica dos dois mercados é bem diferente na comercialização: enquanto a PSA deve vender mais 6% no Brasil este ano, na Argentina o crescimento em vendas deverá ser de 30%.

Segundo dados da Adefa (associação argentina de fabricantes), entre janeiro e outubro a produção no país alcançou 700 mil veículos, com expectativa de se chegar a 840 mil até o fim do ano, uma alta de 22%. Nas vendas, o salto nos dez primeiros meses foi de 558 mil para 724 mil. Mas o refluxo já começou em novembro: segundo a empresa, os dados argentinos devem mostrar uma queda de 7% na produção, em relação ao mesmo mês no ano anterior.

"Para o próximo ano estamos prevendo uma vigorosa moderação na Argentina e uma estabilidade no Brasil. Tanto em um país como em outro o crescimento de vendas deverá ficar abaixo dos dois dígitos", afirmou o português Carlos Gomes, presidente da PSA para a América Latina. Na parte da produção, a balança da PSA deve se desequilibrar, com o investimento anunciado no mês passado para ampliar a capacidade de produção a 220 mil automóveis no próximo ano.

O ritmo de vendas na Argentina fez com que a General Motors anunciasse na semana passada um investimento de US$ 300 milhões, sendo metade deste valor para a ampliação da linha de produção, que passará de 136 mil a 200 mil veículos. "Nós não estamos dando conta do mercado aqui", disse o presidente da GM para Argentina, Paraguai e Uruguai, Sérgio Rocha. Há dois anos a montadora opera com capacidade ociosa zero, fabricando carros em três turnos. A empresa vendeu nos dez primeiros meses do ano 118,2 mil veículos no país, ou 32,4% a mais que no mesmo período do ano passado. A produção até dezembro deve alcançar 136 mil automóveis. Segundo Rocha, o fluxo de veículos do Brasil para a Argentina não existiu porque a montadora também está operando no limite para atender ao mercado local. O executivo brasileiro é outro que aposta na moderação. "Este pique do mercado argentino não tem como ser mantido", disse.

O crescimento das vendas de automóveis e veículos leves na Argentina não é sem precedentes. Entre 1990 e 1994, ocorreu uma expansão semelhante. Nesse período, segundo dados da Adefa, as vendas quintuplicaram, passando de 96 mil para 508 mil unidades.

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