sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Veículos - Vendas em queda, custos em alta e uma variação cambial desfavorável a resultados em moeda estrangeira



Valor 03/08


Vendas em queda, custos em alta e uma variação cambial desfavorável a resultados em moeda estrangeira. Com essa ingrata combinação de fatores, o Brasil - menina dos olhos nos tempos de vacas magras em mercados desenvolvidos - passou a pesar nas finanças de alguns dos maiores grupos automotivos do mundo.

Balanços divulgados nos últimos dias pelas gigantes americanas Ford e General Motors (GM), além da italiana Fiat, mostram quedas de receita, margens e lucro em operações na América do Sul, nas quais o Brasil representa o maior mercado e a sede das filiais na região.

Os números apresentados por essas empresas repercutem as dificuldades enfrentadas por elas na primeira metade deste ano: desde as restrições de crédito que abalaram o mercado brasileiro até o impacto de medidas protecionistas do governo argentino sobre o comércio exterior - atingindo linhas de montagens dependentes de autopeças importadas, sobretudo do Brasil.

O cenário - que também inclui custos de estoques nas alturas - começou a mudar em junho, na esteira dos incentivos lançados em Brasília para reanimar as vendas de carros, como o corte no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

O estímulo, contudo, não foi suficiente para reverter a queda dos resultados financeiros na região, que só não foram piores do que as problemáticas operações na Europa, afundadas na crise que assola o continente.

O desempenho negativo bate também nas remessas de lucro ao exterior, em forte queda em 2012. Depois do recorde no ano passado - quando as montadoras despacharam US$ 5,58 bilhões para suas matrizes -, o envio de ganhos da indústria automobilística recuou 72% no primeiro semestre, somando US$ 845 milhões, segundo dados do Banco Central (BC).

Na quarta-feira da semana passada, a Ford adiantou que sua rentabilidade na América do Sul será, neste ano, significativamente menor do que em 2011. A montadora citou o ambiente de negócios mais competitivo - que pressiona os preços - e a desvalorização cambial entre os fatores que justificam a previsão mais pessimista.

No primeiro semestre - em meio à queda de 4,8% dos volumes de veículos vendidos na região e custos elevados -, a Ford reportou um recuo de 9,6% no faturamento da filial sul-americano, para US$ 4,7 bilhões. Nos seis meses, o lucro operacional antes de impostos somou apenas US$ 59 milhões, muito abaixo dos US$ 477 milhões de um ano antes, com a margem operacional cedendo de 9,1% para 1,2%.

Ontem, foi a vez de a General Motors (GM) soltar seus números, que mostram, na América do Sul, lucro antes de juros e impostos (Ebit, na sigla em inglês) de US$ 64 milhões durante os seis primeiros meses do ano - menos da metade dos US$ 147 milhões do mesmo período de 2011.

Ainda na base de comparação anual, a GM sul-americana registrou queda de 1,7% na receita, para US$ 8,1 bilhões, ou 10,8% do resultado global de US$ 75,4 bilhões. A GM também relatou uma retração de 9,4% na produção de veículos na região - totalizando 433 mil unidades - e perda de participação de mercado: de 19% para 18,2%.

Os resultados da Fiat também foram apertados pela queda de 3,5% nas vendas de sua subsidiária na América Latina, que exclui o mercado mexicano.

Quando se coloca na conta os números da controlada americana Chrysler, o balanço do grupo italiano nessa região mostra recuo de 28,1% no lucro operacional medido pelo Ebit, para € 473 milhões no primeiro semestre. Já a receita líquida cedeu 4,7%, totalizando € 5,2 bilhões no período.

Além dos menores volumes, altas de custos industriais, despesas administrativas e preços mais apertados levaram o resultado da Fiat na América Latina para € 238 milhões durante o segundo trimestre, com queda de 32,4% em um ano.

A alemã Volkswagen, contudo, parece conseguir remar contra essa série de resultados negativos. De janeiro a junho, a receita da empresa na América do Sul somou € 8,56 bilhões, 21,5% acima dos 7,04 bilhões de um ano antes. O resultado segue evolução de 2,6% das vendas de veículos na região.

Nenhum comentário:

Postar um comentário